A ESTRADA E O ACASO — La Strada (1954)

— ORLANDO FIALHO —

La Strada é um filme de Federico Fellini, brilhantemente interpretado por Anthony Quinn e Giulietta Masina que nos fala da estrada da vida de dois seres que se encontram por acaso.

Gelsomina (Giulietta Masina) é vendida pela mãe a um vagabundo Zampanò (Anthony Quinn) que ganha a vida percorrendo o mundo fazendo números de circo.

Gelsomina é uma pobre rapariga que tenta adaptar-se às exigências de Zampanò que a trata como um animal de circo que é preciso adestrar. 

Zampanò que desempenha o papel de um bruta montes por vezes precisa de ser narcisado por Gelsomina, que tenta adaptar-se aos números de circo que ele lhe exige. 

Ele pretende que ela o apresente nos espetáculos de circo como “o grande Zampanò”.

Gelsomina através da sua expressão facial faz-nos sentir os momentos horríveis por que passa e que alternam com momentos em que exprime um grande carinho e alegria, que escondem o grande drama que ela está a viver. 

À medida que o filme decorre sentimos que os dois se encontram numa armadilha da qual não podem libertar-se. Para Gelsomina surge um raio de luz quando encontra um homem que trabalha no circo e lhe dá atenção, mas é um sonho que se desfaz rapidamente pois ele é morto por Zampanò numa briga. Gelsomina acaba por ser abandonada e o corpo de Zampanò aparece abandonado numa praia deserta depois de uma sucessão de brigas.

Ao longo de todo o filme é de assinalar a música de Nino Rota que soa através da trompete de Gelsomina como um profundo lamento. 

Este filme evocou-me o livro de Raul Brandão (1) “A morte do palhaço” assim como o livro de John Steinbeck (2) “Ratos e homens” e ainda de Cormac McCarthy (3) “A estrada”.

“A morte do palhaço”, faz referência à dor, à miséria, à loucura, ao amor e à morte. São temas tratados exaustivamente em toda a obra de Raul Brandão. 

Em “Ratos e homens” George e Lennie são dois amigos que vagueiam no período da Grande Depressão na América sobrevivendo através de trabalhos episódicos com a ideia de comprar um terreno para criar coelhos. 

Acidentalmente Lennie mata a filha do proprietário da fazenda onde trabalhavam. A história termina com o amigo de Lennie a mostrar-lhe uma bela paisagem enquanto lhe dá um tiro misericordioso na nuca para evitar que ele seja preso e condenado à morte. 

Cormac McCarthy descreve-nos uma história emocionante de uma viagem de um pai e de um filho que só através de um grande amor conseguem sobreviver numa paisagem terrivelmente inóspita.

Quero referir ainda o meu trabalho “Humor e depressão” (4) apresentado na Sociedade Portuguesa de Psicanálise em 18 de Novembro de 1986.

AUTOR
Orlando Fialho
Médico Psiquiatra \ Psicanalista \ Membro Titular com funções Didácticas da Sociedade Portuguesa de Psicanálise (SPP)  e da International Psychanalytic Association (IPA) \ Psicanalista de Crianças e Adolescentes \ Autor de diversos artigos e livros de Psicanálise.

REFERÊNCIAS
1.Brandão, R. (1926). A Morte do Palhaço. Padrões Culturais: 2011.
2.Steinbeck, J. (1937). Ratos e Homens. Livros do Brasil: 2005.
3.McCarthy, C. (2006). A Estrada. Relógio D`Água: 2007.
4.Fialho, O. (1986). Humor e Depressão. Conferência apresentada na Sociedade Portuguesa de Psicanálise.

TRAILER

FICHA TÉCNICA
Título original — La Strada
Título inglês — The Road
Título português — A Estrada
Ano — 1954
Duração — 108 min
País — Itália
Realização —  Federico Fellini
Argumento — Ennio Flaiano – Tullio Pinelli – Federico Fellini
Produção — Dino De Laurentiis – Carlo Ponti
Fotografia — Ortello Martelli
Música — Nino Rota
Elenco — Giulietta Masina – Anthony Quinn – Richard Basehart

SINOPSE
Gelsomina é vendida pela mãe a um homem do circo, Zampanó. Ao longo da estrada que percorrem desvendam-se as fragilidades, as ilusões e desilusões de ambos.